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Ciência, hábitos e prevenção numa newsletter para a sua saúde e bem-estar
Lembro perfeitamente de quando a moda do MP3 chegou na minha escola. Nos intervalos de aula, alguns alunos desfilavam pelo pátio carregando o aparelho portátil e ouvindo músicas nos fones de ouvido.
Carregar a música no bolso, porém, demandava cuidados. Médicos nos jornais e programas de TV alertavam para os danos dos fones de ouvido à audição e para a importância de limitar o volume.
O alerta segue importante nos dias de hoje —talvez até mais do que antes. Especialistas relatam um boom no uso do acessório, causado pela popularização dos smartphones e pela adoção do trabalho remoto na pandemia, que adicionou reuniões online na rotina de alguns setores.
Entenda: o problema não é o fone de ouvido em si, mas utilizá-lo com uma intensidade de som muito alta por um tempo prolongado, explica Ricardo Dourado, otorrinolaringologista e membro da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).
Isso aumenta o risco de um quadro chamado de perda auditiva induzida por ruído. “A medida em que a pessoa continua se expondo a esse som numa intensidade elevada, isso vai progredindo. E é muito difícil reverter uma perda auditiva quando ela já está estabelecida”, diz o médico.
O que caracteriza um uso seguro? A intensidade do som é medida em decibéis (dB). O ideal é que o som dos fones não ultrapasse a faixa de entre 80 dB a 85 dB —e quanto menor a intensidade, melhor.
- Os especialistas usam como parâmetro de limite de uso seguro a exposição a 80 dB por até oito horas por dia.
Na prática, o que isso significa? O ideal é escutar em uma intensidade que permita conversar com outra pessoa, sem impedir que você ouça os sons do ambiente, orienta o otorrinolaringologista Bruno Borges de Carvalho Barros.
Tem mais: se as pessoas do seu lado conseguem ouvir o que toca no seu fone de ouvido, é um sinal de que o volume está exagerado, complementa Dourado.
Existe um modelo melhor? O que impacta mais a audição não é o formato do aparelho, mas a intensidade do som. O melhor fone de ouvido é, na verdade, o que você consegue usar com o volume mais baixo.
Há uma ideia falsa de que os fones auriculares (aqueles que ficam mais próximos do canal auditivo) seriam piores para a audição do que o modelo concha (aquele externo, encaixado na cabeça). Novamente: o que importa mesmo é o volume que você coloca nele.
Pensando nisso, há um tipo de fone específico que é indicado pelos especialistas: os que têm cancelamento de ruído. É uma tecnologia que bloqueia os ruídos do ambiente e, por isso, faz com que você possa diminuir a intensidade do som nos fones.
“Hoje, é muito comum usar fones em ambientes com muito ruído, como no ônibus ou no metrô. Aí, para conseguir ouvir a música ou ver o vídeo, a pessoa tem que colocar o som muito alto”, relata Barros. O cancelamento de ruído, nesses casos, evita a “competição” de sons e permite reduzir o volume.
Veja outras dicas dos especialistas para usar os fones de ouvido sem prejudicar sua saúde:
Faça intervalos durante o uso
“A gente orienta que, a cada 30 minutos de uso do fone de ouvido, seja feito um intervalo, uma pausa de 10 a 15 minutos”, indica Barros. Se você trabalha usando fones, a pausa pode ser uma boa desculpa para unir dois bons hábitos. Além de tirar o dispositivo do ouvido, você pode levantar um pouco da mesa, caminhar pelo escritório e evitar o comportamento sedentário.
Busque um modelo confortável para você
O volume é ponto-chave quando falamos sobre perda auditiva. Mas também é importante ter conforto ao usar os fones. Alguns modelos infra-auriculares podem pressionar a cartilagem do ouvido e gerar incômodo, principalmente com o uso prolongado. Por isso, teste os modelos para encontrar um adequado para o tamanho do seu ouvido.
Procure um médico em caso de alterações auditivas
Ao perceber alguma diferença na audição que perdure por mais de seis ou oito horas, busque um otorrinolaringologista. Zumbidos e dificuldade para acompanhar conversas são exemplos.
Há um tipo de perda auditiva transitória, chamada alteração temporária do limiar auditivo. Ela acontece após a exposição a ruídos intensos e se recupera depois de algumas horas ou dias.
- Sabe aquela pressãozinha no ouvido depois de um show ou festa? Estamos falando dela. Caso persista, porém, procure um médico.
Comece a prevenção desde cedo
A perda auditiva é um processo acumulativo, então, para evitá-la, é importante adotar bons hábitos ao longo de toda a vida. Costuma ouvir música muito alta nos fones? Saiba que não é tarde para mudar.
Perder a audição é ruim por si só, mas também se relaciona com um risco maior de outras doenças, como a demência e a depressão. “A população que nasce hoje provavelmente vai passar dos 80, talvez 100 anos de idade. Então, a gente tem que proteger nosso ouvido desde agora”, diz Dourado.
O que você precisa saber
Notícias sobre saúde e bem-estar
Máquinas de PrEP no metrô. Jovens de 15 a 29 anos representam 46,1% dos usuários que mais fazem uso das máquinas de profilaxia pré-exposição instaladas nas estações de São Paulo. A ferramenta distribuiu quase 5.000 frascos de comprimidos de prevenção em um ano de operação.
Vacina contra herpes-zóster. Um novo estudo apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia mostrou que a imunização contra a doença pode reduzir o risco de sofrer ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC).
Implanon nos planos de saúde. O implante contraceptivo hormonal passa a ter cobertura obrigatória pelos planos de saúde a partir desta segunda (1º), para pessoas de 18 a 49 anos de idade. O método, que impede a gravidez por três anos, em breve estará disponível também no SUS.