Há muitas pessoas ocupadas com agendas lotadas em Washington, nos EUA. Não muitas delas têm 90 anos.
Numa terça-feira, a reportagem enviou uma mensagem para a enfermeira aposentada e nonagenária Ednajane Truax para ver quando ela estaria disponível para conversar. “Sexta depois das duas está bom”, respondeu.
Truax, conhecida por amigos e vizinhos como “E.J.”, frequentemente pode ser encontrada de joelhos na terra, trabalhando no jardim do Centro Recreativo Sherwood, no nordeste de Washington. Ela também tem um impressionante jardim próprio e ajuda com os jardins de outros vizinhos.
Ela se exercita várias vezes por semana, às vezes usando uma camiseta que diz “Você não para de levantar peso quando fica velho, você fica velho quando para de levantar peso”. Ela consegue fazer supino com 25 quilos e leg press com 113 quilos.
Truax nunca se casou —”apenas sorte, eu acho”, ela brinca quando pergunto sobre isso— mas permaneceu sociável durante toda a sua vida. Ela faz trabalho voluntário, vai à academia, dá festas, conhece seus vizinhos e os filhos deles pelo nome.
Truax diz que seu segredo para prosperar enquanto envelhece é simples: “Seja ativa.” Acontece que a pesquisa confirma isso.
O que os ‘super idosos’ têm em comum
O cardiologista Eric Topol passou quase duas décadas tentando entender por que algumas pessoas continuam a prosperar aos 80 e 90 anos, enquanto outras começam a ver sua saúde declinar. Topol é especialista em envelhecimento saudável e autor do livro “Super Agers: An Evidence-Based Approach to Longevity” (Super Idosos: Uma Abordagem Baseada em Evidências para a Longevidade).
Topol suspeitava que a diferença entre aqueles que ele chama de “Wellderly” (idosos saudáveis) e todos os outros seria genética. Ele identificou 1.400 pacientes que se encaixavam no perfil que procurava: mais de 85 anos e livres de doenças relacionadas à idade. Topol e sua equipe no Instituto de Pesquisa Scripps fizeram o sequenciamento completo do genoma para este grupo de “super idosos” para tentar descobrir se havia um gene que os mantinha prósperos.
“Curiosamente, seus genes não revelaram muito”, disse Topol. “Na grande maioria das vezes, não tem nada a ver com o DNA deles”, afirmou. Isso foi reconfortante para o próprio Topol, que disse ter um “histórico familiar terrível” de doenças.
“Foi libertador descobrir que talvez eu não siga os passos dos meus pais, tios e tias”, disse ele.
O que os super idosos tinham em comum eram suas escolhas de estilo de vida. Eles se exercitam, especificamente, praticando treinamento de força, provando que pode haver alguma sabedoria na frase da camiseta de Truax. Eles se alimentam bem, dormem o suficiente. E são pessoas otimistas. Têm vidas sociais ativas e significativas e o que Topol chama de “disposição ensolarada”.
“Eles são tão ocupados que você precisa marcar hora para encontrá-los”, disse Topol. Quando ele precisava entrar em contato com perguntas de acompanhamento para seus sujeitos de pesquisa, eles estariam dançando, fazendo trabalho voluntário ou se encontrando com grupos sociais.
Trapézio aos 80
Truax cresceu como uma de seis filhos nos arredores de Pittsburgh. Seu otimismo e forte ética de trabalho se tornaram um meio de sobrevivência.
“Nasci na pobreza extrema. Morávamos em uma pequena casa de madeira sem aquecimento central e sem ar-condicionado”, disse Truax. “Meu pai foi trabalhar nas minas depois de perder seu negócio durante a Depressão, e com seis filhos, ele nunca conseguiu sair.”
Ela queria ir para a faculdade e sabia que sua família não podia pagar, então ela mesma se sustentou na universidade e depois estudou para conseguir uma bolsa para ir à escola de enfermagem.
Quando criança, aniversários não eram muito celebrados. Mas agora, para seus marcos importantes, Truax gosta de fazer algo grandioso. Para seu aniversário de 80 anos, ela foi à escola de trapézio.
Ela levou sua amiga Rosemary. “Eu literalmente tive que arrastá-la comigo”, disse Truax. “Ela é 10 anos mais nova que eu.” Sua amiga criou coragem para pular primeiro.
Para seu aniversário de 90 anos, Truax deu uma festa, sua casa cheia de pessoas de todas as idades, ombro a ombro, socializando e se conhecendo. Ela ainda não tem grandes planos para seu 91º aniversário em outubro, embora tenha considerado a ideia de fazer aulas de voo ou aprender a andar a cavalo algum dia.
Truax disse que não se sente solitária, mas às vezes está sozinha “e então tenho que fazer alguma coisa.”
Quando perguntada se havia algo em sua lista de desejos, Truax fez uma pausa antes de dizer “não realmente.”
Então ela acrescentou: “Apenas cuidar bem dos meus jardins e ser gentil com as pessoas.”