A Educação Física, muitas vezes associada apenas ao desempenho esportivo ou às aulas escolares, é também uma ferramenta estratégica para a saúde pública e a inclusão social.
No Brasil, onde doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, diabetes e obesidade representam 72% das mortes anuais segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), políticas públicas que incentivem o movimento e a prática de atividades físicas podem reduzir custos bilionários no Sistema Único de Saúde (SUS) e transformar realidades comunitárias.
Dados do Ministério da Saúde apontam que apenas 30% dos brasileiros praticam a quantidade mínima de atividade física recomendada pela OMS: 150 minutos semanais de exercícios moderados. O sedentarismo, considerado uma epidemia global, já responde por aproximadamente 13% das mortes no mundo. No Brasil, o problema é ainda mais grave entre populações de baixa renda, onde a falta de acesso a espaços de esporte e lazer limita as possibilidades de prática.
Nesse contexto, a Educação Física como política social ganha protagonismo. Programas como o antigo Segundo Tempo e o Esporte na Escola mostraram, em diferentes momentos, que o esporte pode ser usado como ferramenta de inclusão, afastando jovens da vulnerabilidade social e promovendo saúde coletiva. No entanto, especialistas apontam que a continuidade dessas iniciativas ainda é frágil, com cortes de recursos e pouca integração entre União, estados e municípios.
Para a educadora física Sarah Cristine Pereira Precinoti, que atua há mais de 10 anos em projetos sociais voltados a idosos, crianças em vulnerabilidade e pacientes hospitalares, a falta de consistência das políticas públicas limita o alcance do impacto. “Quando levamos a atividade física a comunidades, lares adotivos ou hospitais, percebemos transformações imediatas em autoestima, socialização e qualidade de vida. Mas para que isso seja política pública de fato, é necessário planejamento de longo prazo, investimento e acompanhamento técnico”, explica.
Um exemplo concreto da força dessas iniciativas foi o projeto Ribeirão Vermelho, em Ribeirão Preto, que buscou mobilizar doações de sangue em meses críticos e contou com atividades físicas e de integração social. Aprovado pela Câmara Municipal, o projeto elevou em 18% as doações da cidade. Casos como esse mostram como a Educação Física, aliada a políticas institucionais, pode gerar impactos mensuráveis para a saúde coletiva.

Além da prevenção de doenças e da inclusão social, há um impacto econômico. Estudos do Banco Mundial estimam que cada dólar investido em programas de atividade física pode gerar até três dólares em economia de gastos com saúde. No Brasil, onde o SUS gasta mais de R$ 3 bilhões por ano apenas com complicações decorrentes da obesidade, a Educação Física como política pública não deve ser vista como despesa, mas como investimento estratégico.
Sarah destaca ainda a importância da formação continuada e da valorização do educador físico dentro das políticas de saúde. “Não basta abrir espaços ou criar programas se não houver profissionais preparados para conduzir atividades de forma segura e inclusiva. A Educação Física precisa ser reconhecida como parte integrante da saúde pública, ao lado da medicina, da enfermagem e da nutrição”, afirma.
A transformação social pela Educação Física exige, portanto, três frentes de ação: fortalecimento das políticas públicas, integração entre saúde e educação e valorização profissional. Quando essas condições se encontram, o movimento deixa de ser apenas atividade física e se torna política social de impacto.