Quando o público entra em um estádio, um shopping ou uma fábrica moderna, dificilmente imagina que por trás da grandiosidade arquitetônica existe um trabalho complexo, silencioso e determinante: as fundações.
Elas são a base que garante a segurança e a durabilidade de toda a estrutura. No entanto, poucos conhecem os desafios técnicos e estratégicos que envolvem essa etapa.
No Brasil, a engenharia de fundações tem se tornado cada vez mais sofisticada, acompanhando a demanda por obras de grande porte. Dados do Sinduscon-SP indicam que, entre 2010 e 2020, os investimentos em infraestrutura e edificações de alto padrão cresceram mais de 30%, exigindo soluções cada vez mais rápidas e eficientes. Essa pressão por prazos curtos e qualidade impecável é vivida na pele por engenheiros civis que atuam na linha de frente.
Um dos exemplos mais emblemáticos vem de São Paulo, onde dois gigantes do esporte brasileiro ganharam vida quase ao mesmo tempo: a Arena Corinthians, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014, e o Allianz Parque, casa do Palmeiras. O engenheiro civil Leandro Ramiro Masson esteve diretamente à frente das fundações dessas obras e explica a dimensão do desafio:
“Na Arena Corinthians, fui responsável por cerca de 80% das fundações, enquanto, simultaneamente, coordenava 100% das fundações do Allianz Parque. Eram duas obras de alta complexidade acontecendo em paralelo, com prazos muito curtos. Essa pressão exigia não apenas conhecimento técnico, mas liderança, resiliência e logística impecável”, relata Masson.

Segundo ele, a execução das fundações é um divisor de águas em qualquer megaprojeto, já que um atraso nessa fase compromete todo o cronograma posterior. No caso dos estádios, qualquer deslize poderia afetar a preparação do país para receber jogos internacionais.
Além dos estádios, Masson participou da execução de obras como a fábrica da Hyundai em Piracicaba, o Shopping Jundiaí, o Shopping Piracicaba e projetos ferroviários da CPTM em São Paulo. Em todas essas obras, a fundação foi determinante para o sucesso:
“O público enxerga o resultado final, mas tudo depende da base. É como plantar uma árvore: ninguém vê as raízes, mas são elas que sustentam o crescimento. O mesmo acontece com grandes construções”, explica.
Especialistas do setor apontam que o segmento de fundações responde, em média, por 15% a 20% do custo total de uma obra de grande porte. No entanto, o impacto é desproporcional: sem uma fundação sólida e bem executada, todo o investimento pode ser colocado em risco.
Para Masson, o grande aprendizado de sua carreira foi entender que engenharia vai além da técnica. Envolve pessoas, prazos e imprevistos que precisam ser resolvidos com rapidez e estratégia:
“Quando enfrentamos prazos impossíveis e condições adversas, descobrimos que a engenharia é também gestão de crises. É nesse momento que o engenheiro deixa de ser apenas um técnico e se torna um líder capaz de transformar desafios em resultados”, afirma.
O futuro do setor, segundo especialistas, tende a incluir ainda mais tecnologia — como o uso de sensores inteligentes para monitorar fundações em tempo real e softwares avançados de modelagem. Mas, para Masson, a essência continuará a mesma: a necessidade de profissionais comprometidos em entregar segurança, qualidade e inovação, mesmo que a base da obra permaneça invisível aos olhos do público.