A capacidade de sonhar é um dos motores que impulsionam o ser humano na carreira e na vida de modo geral, mas diversas pesquisas no Brasil e no mundo têm mostrado que isso anda difícil. Quando o caminho que tínhamos vislumbrado se fecha, é complicado pensar em novas rotas – e a reação comum é abrir mão daquilo que tínhamos imaginado.
Olhamos para a realidade, damos de ombro e dizemos: “não era para ser”.
Mas eu quero contar uma história que pode ajudar quem está passando por esse momento de desilusão no âmbito profissional.
Tudo começou quando eu tinha 4 anos. Ainda tão pequena, decidi que, quando crescesse, queria ter um orfanato. Na época, eu vi uma criança sendo agredida na rua e prometi a mim mesma que, no futuro, iria construir um lugar para cuidar de quem mais precisava.
Poderia ser só uma “coisa de criança”, mas esse sonho cresceu junto comigo e influenciou minha escolha profissional: prestei vestibular para Psicologia e passei.
Só que, na época, minha família não tinha tantos recursos financeiros e precisei aceitar a primeira oportunidade de estágio. Foi na área de recursos humanos.
Não era o que eu tinha planejado e não tinha a ver com aquele meu sonho, mas as obrigações da vida me levaram para esse lugar. Então segui e coloquei a ideia do orfanato em “modo espera”.
Atuando na área, descobri uma nova paixão: conectar pessoas e oportunidades. Dessa descoberta, surgiu a vontade de empreender e, em 1987, fundei a Cia de Talentos.
Mas aquele sonho não foi esquecido. Trabalhei muito, batalhei, e houve momentos em que estive bem distante dele. Passei por crises econômicas no país, incertezas e períodos em que precisei recomeçar do zero.
Em vários momentos, o cenário parecia desanimador, mas eu nunca deixei de acreditar. Essa perseverança, aliás, foi o que manteve minha chama acesa, mesmo quando o contexto externo tentava apagá-la.
E foi justamente essa força que me guiou, anos depois, ao perceber que tinha chegado a hora de devolver para a sociedade tudo o que eu havia construído e conquistado.
Só que, quando, finalmente, tinha condições financeiras para transformar aquele meu sonho em realidade, me deparei com uma série de questões burocráticas e estruturais que, mais uma vez, me afastavam daquele meu desejo de menina.
A solução veio conversando com outras pessoas sobre essa frustração. Foi em uma dessas trocas que ouvi a ideia de transformar o projeto do orfanato em uma instituição que cuidasse dos “órfãos de oportunidades”. Um lugar no qual jovens em situação de vulnerabilidade social pudessem ter acesso à educação de qualidade e, assim, um futuro com mais escolhas e possibilidades reais de desenvolvimento.
Assim, em 2014, nasceu o Instituto Ser+.
Caminhos não óbvios na carreira
Para além de descobrir novos interesses, criar resiliência e redefinir o significado de sucesso, o que essa jornada me ensinou é que precisamos ter olhos atentos para novas rotas que podem nos levar até nosso sonho.
Mais do que isso, aprendi que um sonho pode ter várias formas. Às vezes, projetamos uma ideia muito específica sobre o que deve ser o nosso futuro – e isso pode, sim, ser benéfico. Nos ajuda a ter metas, a lutar por algo que nos inspira e a seguir com propósito.
Contudo, apegar-se a algo a ponto de não olhar para as oportunidades que surgem ao longo do caminho pode transformar um sonho em obstinação. E o resultado disso pode ser uma frustração enorme.
Sonhar significa manter viva a capacidade de imaginar, mesmo quando a realidade insiste em nos contrariar.
Por isso, meu conselho é manter seus olhos e mentes abertos para as diferentes formas que seu sonho pode assumir – porque, às vezes, ele se realiza de um jeito completamente diferente do que você esperava.
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Fonte ==> Você SA
