No Brasil, a segurança pública é um dos maiores desafios de gestão.
O país registrou mais de 47 mil mortes violentas intencionais em 2022, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Além disso, crises como tentativas de suicídio, sequestros, rebeliões e operações contra o crime organizado exigem da polícia não apenas preparo técnico, mas também liderança, capacidade de decisão rápida e equilíbrio emocional.
Nesses contextos, a figura do policial de linha de frente é central. A tomada de decisão em segundos pode significar salvar vidas ou gerar repercussões jurídicas e sociais graves. É nesse ponto que entra a gestão de crises: a combinação de protocolos, treinamento, experiência prática e liderança.
O policial militar Silvio Alessander Encarnação, com quase 15 anos de carreira na corporação paulista, é um exemplo de como essas dimensões se encontram no cotidiano. Reconhecido por diversas medalhas nacionais e internacionais, Silvio viveu situações que testaram não apenas sua técnica, mas sua liderança em campo. Entre elas, estão os resgates de pessoas em tentativas de suicídio, nas quais interveio de forma imediata e eficiente. “Em uma crise, o policial precisa agir com rapidez, mas também com clareza. O erro pode custar uma vida. O treinamento técnico ajuda, mas é a experiência que dá segurança para agir”, relata.
De acordo com especialistas em gestão de crises, há quatro pilares que determinam a eficácia da atuação policial: antecipação, comunicação, execução e avaliação. A antecipação envolve o monitoramento e a preparação para situações de risco. A comunicação é fundamental para negociações e para manter equipes alinhadas. A execução depende da capacidade de agir sob pressão. Por fim, a avaliação permite corrigir falhas e aprimorar procedimentos.
No Brasil, a capacitação policial ainda enfrenta lacunas. Embora corporações estaduais tenham investido em treinamentos táticos e psicológicos, a sobrecarga operacional e a falta de recursos limitam a efetividade. Ainda assim, episódios de sucesso mostram como a liderança em campo pode contornar cenários críticos.
Silvio ressalta que o papel do líder em uma ocorrência é dar exemplo e transmitir confiança. “Se a equipe percebe que o comandante hesita, todos hesitam. A liderança em crise é, acima de tudo, manter a calma para que o grupo tenha segurança em agir. Isso só se adquire com anos de prática”, afirma.

Outro ponto essencial é o impacto social da atuação em crises. Em situações de tentativa de suicídio, por exemplo, o policial deixa de ser apenas agente da lei para se tornar mediador e protetor. Para Silvio, esses momentos marcam mais do que qualquer operação de combate. “As honrarias são importantes, mas nenhuma se compara ao olhar de alguém que voltou a viver porque você chegou a tempo. Isso é gestão de vidas”, reflete.
O futuro da segurança pública no Brasil depende de investir em protocolos claros, em treinamento contínuo e no fortalecimento da liderança em campo. A experiência de policiais como Silvio Encarnação mostra que a gestão de crises não é apenas um conceito estratégico, mas uma prática diária que sustenta a confiança da sociedade na polícia.