O ato de experimentar e escolher entre diferentes tons de base, corretivo e pó é uma experiência recente para mulheres negras. “Antigamente, era um deserto de opções. Se você tinha pele negra, no máximo encontrava dois ou três tons de base”, afirma o maquiador e escritor Tássio Santos.
Para ele, isso mostra como a indústria da beleza tratava —e em alguns casos ainda trata— a diversidade como um detalhe. “A falta de tons adequados manda uma mensagem subliminar dolorosa: que peles mais escuras não merecem a mesma atenção, cuidado e variedade que as claras. É uma forma sutil, mas poderosa, de racismo que afeta a autoestima e a forma como as pessoas negras se veem no mundo.”
Autor do livro “Tem minha cor?: Quando se maquiar se torna um ato político”, Santos atua hoje como consultor em diversidade para a indústria de beleza, ajudando no desenvolvimento de fórmulas que atendam à pele negra.
“Melhorou? Sim, algumas marcas acordaram e lançam linhas com mais tons, mas muitas ainda pecam nesse quesito”, diz. Entre os pontos de atenção de seu trabalho estão o efeito esbranquiçado de produtos com pigmentos de fundo branco e a ampliação da cartela de cores de produtos de pele, por exemplo.
Embora ainda haja espaço para avanço, existe hoje uma gama de cores mais acessível a diferentes tons de pele, e o desafio é aprender como encontrar a base que se ajuste melhor a cada pessoa.
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Katia Celene Araujo, maquiadora da MAC, ensina como encontrar o tom
De acordo com a especialista, o primeiro passo para fazer o teste de cor é estar com a pele hidratada. “Muda a reflexão de luz e, consequentemente, a resposta de tom e subtom de uma pele negra”, diz.
Ela sugere testar mais de uma opção e comparar. Na hora do teste, leve três áreas em consideração: a pele do rosto, do colo e do pescoço. A cor escolhida deve criar uma harmonia entre as partes. Também vale prestar atenção nas diferentes áreas do rosto. A pele negra pode ter tons variados, com algumas áreas mais claras e outras mais escuras.
Confira dicas para o teste:
- Com o rosto limpo e hidratado, aplique a base em áreas como a lateral do rosto e o pescoço
- Espere a base assentar e secar. É comum que alguns pigmentos mudem de cor após a secagem, em um processo popularmente chamado de “oxidação”, embora o termo não seja cientificamente correto para nomear o escurecimento do pigmento
- Não se esqueça da iluminação —a melhor opção é testar durante o dia na luz natural.
- Teste mais de uma cor. Quanto maior a gama de cores disponível, mais chances você tem de encontrar seu tom exato. Uma boa ideia é testar um tom mais claro e um mais escuro daquele que você desconfia ser o seu
- Considere testar subtons diferentes, caso esteja em dúvida. Cada marca tem sua construção de cores —o que uma chama de oliva, outra chama de neutro e outra pode chamar de quente, embora a teoria seja a mesma
- Se estiver em uma loja ou shopping, faça o teste, dê uma volta e decida depois. Assim, você pode ver se a cor se comporta bem em outros ambientes e iluminações
- Peça a ajuda de um vendedor ou amigo. Uma pessoa que te vê de frente, como um todo, pode ter um olhar mais certeiro sobre a tonalidade escolhida
- A cor ideal é a que te deixa confortável. Você pode optar por um tom mais claro que seu rosto, mas que converse com o pescoço, ou escolher um mais escuro, da cor do seu braço, por exemplo, e equilibrar essas diferenças com truques de maquiagem ou outros produtos (blush, contorno, iluminador)
