O aumento expressivo dos casos de depressão entre crianças e jovens no Brasil acende um alerta: muitos vivem o chamado “sofrimento silencioso”, muitas vezes invisível aos olhos de famílias, escolas e até dos serviços de saúde. Esse quadro se agrava na era digital e de adultização precoce, fenômenos que sobrecarregam o desenvolvimento emocional infantojuvenil.
No país, cerca de 10% dos adolescentes apresentam sintomas de depressão, enquanto globalmente esse número chega a 20%. Além disso, um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), revela que mais de 50% dos universitários brasileiros presentam sintomas moderados a graves de depressão.
Para o psicólogo Fernando Diogo Padovan, Mestre em Avaliação Psicológica e Saúde Mental e professor do Curso de Psicologia daFaculdade Santa Marcelina, as redes sociais podem ser um dos grandes motores desse sofrimento silencioso.
“A exposição precoce a telas e conteúdos digitais não é neutra. Pesquisas de neuroimagem mostram alterações em áreas cerebrais relacionadas à linguagem, funções executivas e regulação emocional. Além disso, as redes sociais amplificam padrões de beleza e estilo de vida inalcançáveis, aumentando a comparação social, a insatisfação corporal e os sintomas depressivos. A psicoterapia ajuda a resgatar autoestima, identidade e habilidades de autorregulação frente a esses gatilhos digitais”, afirma Padovan.
Outro fator que contribui para o sofrimento silencioso é a adultização precoce, processo em que crianças e adolescentes são submetidos a exigências de produtividade, desempenho e estética muito antes do tempo adequado. “Essa antecipação de responsabilidades molda a personalidade para valorizar relações e experiências como produtos de consumo, empobrecendo vínculos saudáveis e gerando exaustão, cinismo e um sentimento difuso de inadequação. A psicoterapia atua como espaço seguro para reconstruir subjetividade e propósito”, acrescenta o especialista.
O que é o sofrimento silencioso?
Padovan explica que esse sofrimento muitas vezes não aparece em comportamentos disruptivos, mas é mascarado por desempenho escolar exemplar, obediência e maturidade precoce. “Não é que o sofrimento seja silencioso, mas que a sociedade ainda não reconhece com seriedade o impacto da hiperexposição digital e da performance adulta contínua. Crianças e jovens podem estar sofrendo intensamente mesmo sem dar sinais visíveis de fragilidade”, diz.
Segundo o especialista, pais e educadores devem ficar atentos, investindo em psicoeducação, limites saudáveis, incentivo à brincadeira livre e alfabetização digital, além de garantir espaços de fala e acompanhamento psicológico. A prevenção, nesse contexto, é tão importante quanto o tratamento.
Padovan lembra que parte do aumento nos diagnósticos de depressão reflete também uma maior visibilidade de sinais antes ignorados. “O cuidado deve ser qualificado, evitando banalizar ou medicalizar experiências complexas. Psicoterapia, aliada a intervenções familiares e escolares, é a chave para organizar o cuidado e oferecer respostas mais efetivas”, finaliza.
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Rafael Damas | 15:00 – 17/09/2025