Um leitor questiona: minha esposa e eu nunca conversamos realmente sobre o que nos excita, embora tenhamos tido um relacionamento razoavelmente bom no departamento sexual. Recentemente, depois de assistir ao filme “Babygirl”, criei coragem para perguntar se ela tinha alguma fantasia específica. Ela disse que sim, mas não queria me contar porque sentia vergonha. Francamente, eu não conseguia imaginar o que seria, já que sou bastante tranquilo sobre a maioria das coisas. Mas quando ela me contou que sua fantasia era fazer sexo com vários homens ao mesmo tempo, comecei a me preocupar que talvez ela estivesse fingindo interesse ou excitação todos esses anos, e me sinto um pouco mais distante dela desde então.
Às vezes, as respostas que mais queremos de um parceiro são aquelas que mais nos perturbam.
É desorientador ouvir um parceiro compartilhar uma fantasia sexual que não se encaixa na imagem que sempre tivemos dele. Mas essa é a natureza da fantasia —ela nos permite explorar partes de nós mesmos que parecem proibidas, assustadoras ou marcadas pela vergonha.
Em muitos aspectos, nossas fantasias sexuais ocorrem na intersecção de nossas aspirações, conflitos e ansiedades. Elas podem oferecer uma sensação de domínio sobre as próprias partes de nós que nos impedem de experimentar plenamente o prazer ou expressar desejo. Uma possibilidade é que a fantasia dela expressa ser tão desejada e desejável que não apenas um homem a acha irresistível, mas um grupo inteiro de homens. Isso pode servir para tranquilizar sua crença inconsciente de que não é atraente, sexy ou atraente —mesmo que objetivamente ela possua todas essas qualidades em abundância.
Outra ideia pode estar relacionada aos prazeres de abrir mão do controle. De acordo com pesquisas recentes das sociólogas Alicia Walker e Arielle Kuperberg, “um grande número de mulheres fantasia sobre abrir mão do controle, ou seja, ser orientada sobre o que fazer, ser dominada, mas de uma maneira consensual e frequentemente emocional”, diz Walker por email. Walker e Kuperberg são coautoras do novo livro “Bound by BDSM: Unexpected Lessons in Building a Happier Life” (Limitado pelo BDSM: Lições Inesperadas para Construir uma Vida Mais Feliz, em português).
Elas descobriram que as fantasias das mulheres tendem a se enquadrar em alguns temas principais: romance, poder, tabu e curiosidade. “Há uma razão pela qual ‘Cinquenta Tons de Cinza’ vendeu mais de 150 milhões de cópias”, conta Walker. “Essas fantasias não são sobre violência; são sobre se soltar —sobre ser desejada tão intensamente que você perde o controle.”
Diferenças no que nos excita
Como outras fantasias podem funcionar? Alguém que sente muita culpa por ser sexual pode fantasiar sobre ser forçado a isso porque não precisa sentir que é algo que iniciou. Outra pessoa pode preferir ser controlada ou dominada porque em grande parte do resto de suas vidas está constantemente no comando. Pense em Paul Giamatti interpretando um procurador dos EUA que regularmente visita uma dominatrix na série de televisão “Billions”.
Por que algumas pessoas se excitam com saltos agulha, calças de couro ou lingerie, enquanto outras se excitam mais com a enorme variedade de tamanhos, formas e atitudes que nós, humanos, possuímos? Como escreve o psicanalista Michael Bader em seu livro “Arousal: The Secret Logic of Sexual Fantasies” (Excitação: A Lógica Secreta das Fantasias Sexuais, em português): “Uma enorme quantidade de informação psicológica está contida em uma simples fantasia. [Elas] desfazem rejeições, transformam impotência em poder, redimem sentimentos de indignidade e eliminam até os mais tênues vestígios de depressão.” Ou como diz a atriz Shirley MacLaine: “Sexo raramente é sobre sexo.”
Tendo mais perspectiva
É por isso que é importante manter ambas as verdades ao mesmo tempo: as realidades do seu relacionamento e a lógica separada, muitas vezes mais indisciplinada, do desejo sexual. Passar da compreensão da dinâmica geral da fantasia para pensar sobre a fantasia específica da sua esposa pode ajudá-lo a responder com mais perspectiva.
Por exemplo, você pode ser tentado a pensar que a fantasia dela de estar com vários homens ao mesmo tempo reflete mal sobre você —que de alguma forma você não é sexy, excitante ou satisfatório o suficiente. No entanto, se ela tivesse outro parceiro, provavelmente teria a mesma fantasia devido à maneira como isso dá acesso a partes dela mesma que ela não consegue alcançar de outra forma. Da mesma forma que um ótimo parceiro romântico não pode curar completamente nossas feridas da infância, um ótimo relacionamento sexual não pode resolver completamente nossos conflitos mais profundos sobre o prazer.
Paradoxalmente, algumas das qualidades que fazem um ótimo relacionamento romântico —ser empático, atento e cuidadoso— podem estar em desacordo com o tipo de busca egoísta pelo prazer que uma boa vida sexual requer. Essas qualidades centradas no outro às vezes podem interferir em nossa capacidade de nos perdermos no momento porque estamos muito focados nos sentimentos do nosso parceiro e não nos nossos.
Revelação como sinal de confiança
Antes de decidir o que a fantasia dela “significa”, lembre-se de que as fantasias sexuais não são projetos para o comportamento no mundo real. Muitas pessoas se excitam com ideias que nunca gostariam de colocar em prática; elas podem até perder se desanimar se realmente acontecessem. A revelação dela não significa diretamente que ela esteja insatisfeita com você ou planejando realizá-la. Significa que ela confiou em você o suficiente para abrir uma porta muito privada para sua imaginação.
Essa confiança vale a pena ser apoiada. Compartilhar sua fantasia tabu foi arriscado na medida em que a expôs ao seu potencial julgamento, nojo ou vergonha. O fato de ela ter contado a você, sabendo que isso poderia mudar a forma como você a vê, sugere intimidade em vez de distância, então tente responder de uma maneira que reforce essa confiança.
Também pode ajudar examinar sua própria reação com curiosidade em vez de julgamento. O que, especificamente, fez você perder o respeito? Foi o conteúdo sexual em si? O significado moral que você atribuiu a ele? Um medo de que isso mude quem você pensava que ela era? Refletir sobre essas questões antes de tirar conclusões precipitadas pode abrir espaço para uma compreensão mais matizada.
Este momento pode ser uma abertura em vez de uma ruptura. Se isso parecer muito intimidador, considere consultar um terapeuta sexual para obter apoio sobre suas diferentes reações e perspectivas.
Nem toda fantasia precisa sair da imaginação para ser satisfatória. Você pode explorá-las de maneiras que as mantenham firmemente no reino das ideias —através de narrativas eróticas, interpretação de papéis ou simplesmente trocando ideias em conversas. Os limites podem permanecer intactos enquanto a curiosidade e a conexão crescem. Como vocês dois admitiram que nunca conversaram muito sobre fantasias antes, você pode tratar isso como um convite. O que te excita? O que é emocionalmente carregado para você? Onde seus desejos se sobrepõem? Mesmo que vocês nunca ajam nas fantasias um do outro, conhecer um ao outro mais profundamente pode ser erótico por si só.
Finalmente, tenha em mente que a sexualidade tem múltiplas camadas. Há atração, há comportamento e há fantasia. Eles se influenciam, mas não são a mesma coisa. Um parceiro pode amá-lo, sentir-se atraído por você e estar totalmente comprometido, enquanto ainda tem uma vida erótica em sua imaginação que não se parece em nada com a realidade compartilhada.
Se você puder receber a revelação dela com abertura, poderá descobrir que a honestidade que você pediu pode ser uma ponte para uma conexão mais profunda —não um muro entre vocês.
