O governo federal anunciou nesta quinta-feira (4) o início da implantação do ITMI (Instituto Tecnológico de Medicina Inteligente), apresentado como o primeiro hospital público inteligente do Brasil. A unidade será construída no complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), com previsão de funcionamento para o final de 2027.
O projeto prevê uso de inteligência artificial, ambulâncias conectadas em 5G e telessaúde. Segundo o Ministério da Saúde, a expectativa é reduzir o tempo de atendimento em casos graves de até 17 horas para cerca de duas.
“O hospital inteligente permitirá integração com a rede de atenção em todas as etapas, da atenção primária até os serviços de urgência e emergência, garantindo cuidado mais rápido, eficaz e humano. É a tecnologia a serviço do SUS, do médico ao paciente, da formação profissional à assistência”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante o evento de lançamento do projeto, em São Paulo.
Estimado em US$ 320 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão), a serem solicitados ao NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), conhecido como banco dos Brics, o custo do projeto é coberto pela parceria entre o Ministério da Saúde, Governo de São Paulo e USP.
O hospital terá um edifício com 150 mil m², onde estarão 800 leitos voltados a emergências em áreas como neurologia, neurocirurgia, cardiologia e terapia intensiva. Além da assistência, o ITMI deverá funcionar como centro de pesquisa e inovação em áreas como saúde digital, inteligência artificial e engenharia clínica.
Para a especialista em gestão de saúde Crystina Barros, doutora em administração pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a iniciativa é significativa porque coloca o hospital público como “ponto de distribuição de inteligência”, articulado com a atenção básica e de urgência.
“Não se trata de uma ilha. O hospital inteligente deve integrar a rede, levando especialistas e recursos para além de seus muros, conectando diferentes níveis de atenção”, diz.
O plano do governo inclui ainda a criação de uma rede nacional de UTIs inteligentes em dez capitais (Belém, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife, São Paulo, Salvador e Teresina), conectadas ao Hospital das Clínicas da USP. Nessas unidades, sistemas de IA farão monitoramento em tempo real e auxiliarão na regulação de leitos e na tomada de decisões clínicas.
Barros ressalta que esse tipo de integração pode democratizar o acesso a especialistas, inclusive em regiões distantes. “Hoje já é possível usar câmeras e sensores para identificar padrões de movimento que o olho humano não percebe, antecipando crises como convulsões. Isso pode ser acompanhado em tempo real por um pesquisador em São Paulo e aplicado em UTIs de diferentes capitais”, afirma.
Ela lembra que a inteligência artificial já vem sendo usada em hospitais privados e públicos do país em tarefas como a interpretação de exames de imagem. “Na mamografia, por exemplo, o uso de IA aumenta em até 25% a precisão do diagnóstico. Em radiologia, pode elevar a sensibilidade para quase 96% em alguns exames”, explica.
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A especialista destaca, no entanto, que a tecnologia não substitui profissionais de saúde. “Existe um déficit de mão de obra no SUS. A IA pode ampliar eficiência, mas é insubstituível a presença de quem coloca a mão no paciente, explica resultados e garante humanidade no atendimento.”
A iniciativa faz parte do programa federal Nova Indústria Brasil, que prevê R$ 4,4 bilhões em investimentos no Complexo Econômico-Industrial da Saúde até 2033. Para Barros, nascer em uma universidade pública é um ponto forte do projeto. “Quando a pesquisa começa no setor público, a lógica é a da ciência e do acesso universal. O privado tende a absorver depois, mas com foco em produtividade e lucro”, afirma.