Atletas de alto rendimento: 41% têm distúrbio alimentar – 18/06/2025 – Equilíbrio

Uma ginasta está realizando um exercício na trave de equilíbrio. Ela está posicionada de forma horizontal, com uma perna estendida para trás e a outra dobrada. A trave é de cor clara e possui a inscrição

Um estudo para avaliar a saúde mental no esporte, feito pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul em parceria com o COB (Comitê Olímpico do Brasil), aponta que 41% dos atletas de alto rendimento brasileiros possuem transtornos alimentares.

Alguns dos resultados da Validação da Ferramenta de Rastreio da Saúde Mental foram apresentados nesta quarta-feira (18), no Brain Congress 2025 – Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções, em Fortaleza (CE).

Segundo a pesquisa, que ainda não foi publicada, 23% afirmaram ter dificuldade para dormir, 15% relataram uso de álcool, 5% de drogas, 14,6% têm depressão e 13,5% sofrem de ansiedade.

“Esses dados nos mostram o quanto essa população é vulnerável e precisa da nossa atenção. O mapeamento é importante para garantir que esse ambiente seja saudável e seguro, e que a medalha não venha com o prejuízo da saúde de alguém “, afirma a psicóloga clínica e esportiva Aline Arias Wolff.

Para a avaliação, os participantes responderam um questionário com informações pessoais, como o tipo de esporte e nível de competição que participa. Em seguida, eram direcionados para a ferramenta, que é dividida em sete escalas. A primeira é uma triagem que busca avaliar o estresse em geral. A aplicação —online— envolveu cerca de 300 atletas, de ambos os sexos.

“Existe uma prevalência, um risco e isso justifica todas as ações para que a gente mitigue cada vez mais os efeitos nocivos dessas pessoas vulneráveis, que são de carne e osso, assim como qualquer um de nós. O esporte, como qualquer fenômeno, precisa de cuidado ativo para não ser um agente de doença. Enquanto fenômeno social, experiência humana, o esporte é muito importante para o futuro das crianças e em geral, mas precisamos cuidar desse fenômeno”, diz Wolff.

Quem não lembra da ginasta Simone Biles nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021? Ela desistiu da disputa de algumas das finais por questões de saúde mental. Com a desistência, a atleta deu visibilidade ao assunto e trouxe à tona o conceito de que “tudo bem não estar bem”.

Pressão por resultados, treinos, controle de peso, instabilidade financeira —sobretudo para práticas que não possuem o apelo do futebol—, acesso à mídia, apoio social restrito e identidade de atleta são os estressores do esporte profissional.

“Há esportes com apelo estético e muitos com controle de peso propriamente dito. Estou no esporte de alto rendimento há muitos anos. Há seis anos atrás, não era incomum os atletas perderem dez quilos em três dias. Felizmente, estamos conseguindo mudar essas práticas, mas isso acontece a passos lentos”, comenta a especialista.

No caso do esporte amador, além da pressão por resultados, risco de lesão, dupla jornada, baixa recuperação e apoio profissional restrito são os fatores de estresse.

“Os atletas amadores são facilmente esquecidos. Lesão, múltiplas cirurgias, perda de rendimento, ter um perfeccionismo desadaptativo, com característica de personalidade, autocrítica severa e padrões inflexíveis aumentam praticamente o risco de transtorno mental. Não consta aqui, mas concussão também é um fator de risco importante. O profissional de saúde mental tem que estar o tempo todo acompanhando o pós-concussão, não só o médico do esporte”, explica.

Para a especialista, é necessário cuidar do atleta com profissionais capacitados e habilitados, inseridos nas comunidades esportivas.

“Antes de ser atleta, ele é uma pessoa, com história, complexidade, família e com uma identidade —marido, pai ou filho— e isso é algo que toda comunidade esportiva ainda precisa aprender. Profissionais inseridos no esporte com práticas responsáveis, baseadas em evidência e muito estudo, têm um grande potencial de transformar isso que traz tanta alegria para gente em algo que também faça bem a eles. Essa é a verdadeira medalha”, finaliza a psicóloga.

A jornalista viajou a convite do Congresso Brain



Folha SP

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