O que fazer: Minha mãe usa culpa nas festas de fim de ano – 20/12/2025 – Equilíbrio

Mãe coloca criança para dormir em uma parte escura do quarto que contém um ar condicionado. Luz passa pela persiana semi aberta, criando uma pequena área iluminada no canto do quarto.

Meus pais se divorciaram quando eu era pequena. Eles não têm um bom relacionamento e raramente se falam. Estou na casa dos 20 anos e, quando volto para casa nas festas de fim de ano, gosto de passar tempo com a família do meu pai. Minhas tias e meus avós sempre me fizeram sentir amada, e eu gosto de estar com eles. O problema é que minha mãe quer que eu passe a mesma quantidade de tempo com ela.

Ela contabiliza o tempo que passo com a família do meu pai —mesmo quando ele não está presente— como “o tempo dele”. Ela fica irritada ou passivo-agressiva quando menciono meu pai ou a família dele. Quero fazer minha mãe se sentir amada, mas quando passo tempo com ela durante as visitas, ela costuma me criticar, não reservar tempo para mim ou gritar.

A família da minha mãe e a família do meu pai moram a mais de uma hora de distância uma da outra, e quando estou em casa não tenho carro nem condições financeiras de me hospedar em um hotel. Ficar na casa da minha mãe às vezes faz com que ela fique brava comigo pessoalmente, e não ficar com ela faz com que ela fique brava comigo por semanas depois das festas.

Quero ter uma conversa honesta com minha mãe sobre como uso meu tempo nessas visitas, mas não consigo fazer isso sem a ameaça iminente de raiva. Como posso evitar que toda visita para casa termine comigo em lágrimas?

RESPOSTA DA TERAPEUTA Lori Gottlieb

Isso não é sobre a logística de como você escolhe passar as festas. É sobre o peso emocional que sua mãe atribui a elas.

Vejo isso com frequência em situações conflituosas, em que um ou ambos os pais tratam o divórcio como uma competição contínua para ver quem “vence” os familiares, amigos, bens e, claro, quaisquer filhos envolvidos —como se essas supostas vitórias compensassem o que foi perdido emocionalmente. O fato de sua mãe se referir ao tempo passado com os parentes do seu pai como “o tempo dele” destaca essa mentalidade. Ela não a vê como uma pessoa adulta com preferências próprias, mas como uma criança que faz parte de um placar.

Na vida adulta, você não precisa mais participar dessa competição. Um relacionamento mais saudável com sua mãe e, por extensão, uma visita de festas mais agradável exigirão duas mudanças —uma interna e uma externa.

Internamente, você precisará abandonar a ideia de que é responsável por regular a raiva, a decepção, a solidão ou o luto da sua mãe. Muitos filhos de pais divorciados crescem acreditando que precisam administrar as emoções dos outros porque os adultos ao redor não encontram boas formas de lidar com a dor compreensível que acompanha o divórcio.

Durante um casamento, cada cônjuge geralmente recorre ao outro em busca de apoio. Mas, no divórcio, esse apoio desaparece, e amigos e familiares nem sempre têm as habilidades ou a paciência para guiar alguém por esse evento que muda a vida. Entram então os filhos, que tentam criar alguma aparência de paz cuidando emocionalmente dos adultos ao redor —um padrão que pode persistir por anos ou décadas.

Mas, como você viu, nenhuma quantidade de acomodação resolve o problema subjacente. Quando você fica com sua mãe, ela fica brava com você durante a visita. Quando você não fica, ela fica brava por semanas depois. O denominador comum não são suas escolhas; é a incapacidade dela de lidar com os próprios sentimentos sobre essas escolhas. Ela usa o controle para acalmar o que sente —e o controle é justamente o que a afasta de você.

Para encerrar esse ciclo, você terá de se lembrar (observe que digo lembrar a si mesma, não à sua mãe, porque esta é uma mudança interna) de que os sentimentos da sua mãe são responsabilidade dela. Isso exigirá prática, mas quanto mais você fizer isso por si mesma, mais verá que seu papel é fazer escolhas com clareza e compaixão, não com capitulação. É uma ilusão imaginar que você pode controlar a raiva dela, fazê-la perceber que seu amor pela família do seu pai não diminui seu amor por ela, ou preencher o vazio deixado pelo divórcio dela.

É aí que entra a mudança externa. Você pode ser honesta com sua mãe quando conseguir se tranquilizar de que não é responsável pela reação dela.

Essa verdade pode soar assim:

“Eu te amo e quero um relacionamento em que nosso tempo juntas seja bom. Hoje, a pressão por ‘tempo igual’ dificulta que eu relaxe com você. Quando você fica brava mesmo sabendo que não estou fazendo nada errado, fica difícil estarmos juntas, e eu quero ter uma relação próxima com você. Não estou escolhendo entre você e outros familiares. Estou escolhendo me relacionar com todos de quem gosto. Então, é assim que vou organizar meu tempo quando estiver em casa nas festas.”

Em seguida, você expõe seus planos. Se ela ficar brava, lembre-se de que a raiva dela é uma informação sobre a dor dela, não uma ordem que você deva obedecer. Se ela retaliar com críticas ou silêncio, você pode dizer que, a partir de agora, fará outros arranjos quando visitar até que ela esteja pronta para criar um lar acolhedor. Você pode lembrá-la de que o que busca é conexão, não distância, mas que, para isso acontecer, ela precisa vê-la como a adulta que você é —uma filha com dois pais que ama profundamente e a liberdade de escolher como e quando vê-los.

Provavelmente ela não reagirá bem no começo. Mas, com o tempo, manter-se firme —sendo afetuosa, clara e consistente— dá a ela a chance de se ajustar a uma nova compreensão: a de que sua autonomia não ameaça o relacionamento, a menos que ela a transforme em uma ameaça.

Ao fazer essas mudanças, você verá que a verdadeira pergunta não é como manter sua mãe calma durante as visitas. É como permanecer centrada em si mesma enquanto permite que ela sinta o que sentir. É aí que o relacionamento que você deseja se torna possível.

Esta coluna não substitui aconselhamento médico profissional.



Folha SP

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